Muito além do diagnóstico
- Tiago Henrique Oliveira Lima
- 10 de nov. de 2024
- 3 min de leitura

Vivemos em uma sociedade marcada pela necessidade de classificar, nomear e rotular. Tudo parece ser diagnosticável. Nunca houve tantas classificações de transtornos mentais, tantas explicações prontas para problemas complexos, tantas soluções rápidas por meio de medicamentos ou programas e protocolos. E, muitas vezes, as pessoas sentem profundo alívio ao receber um diagnóstico. Dá-se um nome ao que parecia sem forma e caótico e a pessoa tem a sensação de resolução de seu problema.
Entretanto, essa busca incessante por respostas imediatas e diagnósticos categóricos muitas vezes mascara uma verdade profunda: os seres humanos são mais do que seus sintomas. Somos um todo complexo e fluido, um organismo vivo em contínua mudança muito além de qualquer classificação ou etiqueta.
O valor e os limites do diagnóstico
De forma alguma se pode negar a importância dos diagnósticos. Eles têm seu lugar, especialmente em casos de maior complexidade, onde uma visão estruturada pode oferecer clareza e direcionamento. Quando utilizados com ética e respeito, os diagnósticos tornam-se ferramentas valiosas para compreender o que está acontecendo com alguém em um determinado momento.
No entanto, a sociedade atual parece ter transformado a prática diagnóstica em um fim em si mesma. É alarmante observar o aumento da medicalização de problemas que, muitas vezes, refletem angústias inerentes à existência humana como o medo do incerto, da finitude, da solidão ou às mais insalubres condições sociais como a ansiedade diante de um mundo veloz e líquido, o estresse que emerge das pressões sociais, insegurança material, etc.
Essas experiências, embora desconfortáveis, podem ter algo a nos ensinar. A ansiedade, o desconforto emocional, e até mesmo o desequilíbrio muitas vezes aparecem como sinais, convocações para a mudança. É o grito do âmago do ser, clamando por atenção, por cuidado e por desenvolvimento. E pelo olhar de como a organização e pressão social nos afeta, seria justo individualizar e patologizar os sofrimentos advindos dela?
O ponto de partida da psicoterapia
Aqui reside uma pergunta essencial: por onde começar? Seria o diagnóstico o ponto de partida? Um problema específico, isolado? Ou, talvez, a angústia vivida no momento presente, no aqui e agora?
Não há resposta única. Cada pessoa chega à terapia com uma história, uma dor, uma busca. Para nós, psicoterapeutas centrados na pessoa, o diagnóstico pode ser um ponto de partida, mas jamais um destino. Acreditamos na tendência inerente de cada indivíduo em buscar seu crescimento pleno, sua realização, sua autonomia. O diagnóstico, nesse contexto, é apenas um prisma, nunca uma prisão.
A riqueza da experiência humana
Ao invés de sufocar as angústias com respostas imediatas, podemos acolhê-las. Elas têm um valor inestimável: são chamadas para olhar a vida de frente, integrar o que foi fragmentado, crescer e amadurecer. A psicoterapia é o espaço onde isso acontece.
É ali que a pessoa pode descobrir que não é o rótulo que recebeu, que não está condenada a permanecer estagnada em um diagnóstico. Pelo contrário, a terapia oferece um ambiente seguro para explorar o desconforto, dar voz à dor e transformar a experiência em algo genuinamente humano.
Conclusão: mais que um diagnóstico

O diagnóstico, quando necessário, deve ser tratado como uma ferramenta, não uma identidade. Nossa tarefa como psicoterapeutas é lembrar, sempre, que cada pessoa é um ser em constante transformação, uma totalidade que nunca pode ser plenamente descrita por palavras ou categorias.
A psicoterapia existe para acolher a angústia e abrir caminhos para que a tendência natural ao crescimento possa fluir novamente. Porque, no final, o mais importante não é dar um nome ao problema, mas ajudar cada pessoa a encontrar um sentido para sua jornada e, a partir daí, florescer.
Com afeto,
Tiago Henrique.
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